quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

HEPATITE C: NOVA REALIDADE, NOVOS HORIZONTES

A Opinião de José Cotter
(Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia)

Hepatite C: nova realidade, novos horizontes

2015-01-13
José Cotter
José Cotter
A hepatite pelo vírus C é uma das mais importantes infecções cronicas em todo o mundo, afectando 3% da população mundial, isto é, 170-200 milhões de pessoas. É ainda a causa mais frequente de cancro do fígado e de transplante hepático nos países desenvolvidos. Em Portugal estimam-se que existam cerca de cem mil pessoas infectadas, ocorrendo como consequência da doença um número aproximado de mil mortes anuais. É pois um problema de saúde pública que merece uma estratégia concertada, actuante e eficaz.
A hepatite C é por alguns chamada doença silenciosa. Tal relaciona-se com o facto da maior parte dos doentes infectados não terem qualquer queixa ou sintomas atribuíveis à doença, ao longo de vários anos. Habitualmente, quando as queixas se manifestam, já a doença se encontra num estadio avançado, com um prognóstico mais reservado.

Sabe-se que 30-40% dos casos não tratados ou ineficazmente tratados, evoluem gravemente para cirrose, que é uma situação clinica grave e irreversível, cujo tratamento sustentado é apenas o transplante de fígado. Acresce que nos doentes com cirrose, o aparecimento de cancro do fígado, situação de muito mau prognostico e com elevadíssima mortalidade, ocorre em 10-40% num espaço de tempo de 10 anos. Por todas estas razoes o desejável é que a doença seja tratada eficazmente numa fase tão precoce quanto possível.

A hepatite C é por alguns chamada doença silenciosa
A hepatite C é por alguns chamada doença silenciosa
Contudo, o diagnóstico atempado encerra duas limitações: por um lado o facto de, como atrás foi dito, a doença ser assintomática durante vários anos e por outro o facto de um terço dos doentes não ter factores evidentes de risco para o contágio que sofreu, não se chegando mesmo a qualquer conclusão quanto à identificação do mesmo. Sabe-se que um historial de transfusões de sangue anteriores ao ano de 1990, consumo prévio de drogas ou contacto com sangue contaminado são factores de risco aumentado para a transmissão, mas num número significativo de casos tal nunca existiu e a infecção é uma realidade.

Por tudo isto se sugere que pelo menos uma vez na vida as pessoas façam o teste, uma vez que além do mais se trata de uma simples analise sanguínea que pode ser efectuada ao mesmo tempo de outras análises efectuadas habitualmente. A partir dai a situação real estará conhecida e a estratégia mais adequada poderá ser equacionada.

consumo prévio de drogas ou contacto com sangue contaminado são factores de risco
consumo prévio de drogas ou contacto com sangue contaminado são factores de risco
Uma das grandes evoluções da medicina contemporânea prende-se com o tratamento da hepatite C. Em 1985 os primeiros tratamentos revelaram uma eficácia de 5%. Com o evoluir dos tratamentos disponíveis, a eficácia aumentou significativamente estando hoje em valores que poderão permitir a cura em 80-90% dos casos, com curtos tratamentos de 12 semanas.

Mas igualmente importante são os avanços referentes à segurança da medicação administrada e à diminuição dos efeitos colaterais da mesma, que modernamente se pode fazer apenas por via oral, sem injectáveis, com efeitos mínimos sobre a qualidade de vida de quem a está a utilizar.

Por todas estas razões, evolução, controvérsias e actual “estado da arte”, se justifica a realização da Reunião Monotemática da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia no dia 31 de Janeiro de 2015, em Guimarães, intitulada “Hepatite C - nova realidade, novos horizontes”. A presença de reputados médicos especialistas portugueses e estrangeiros para abordarem estes temas e a discussão das melhores estratégias a adoptar trarão seguramente mais valias na actualização médica com consequente repercussão no tratamento dos doentes.

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