CISTITE INTERSTICIAL | Síndrome da bexiga dolorosa
Autor: PEDRO PINHEIRO 1 COMENTÁRIO
A cistite intersticial, também conhecida por cistite crônica ou síndrome da bexiga dolorosa, é uma condição que afeta principalmente as mulheres e se caracteriza por dores recorrentes na bexiga, semelhantes àquelas que surgem nos quadros de infecção urinária.
Neste artigo vamos abordar os seguintes pontos sobre a síndrome da bexiga dolorosa:
- O que é a cistite intersticial.
- Sintomas da cistite crônica.
- Tratamento da síndrome da bexiga dolorosa.
Neste artigo falaremos apenas da cistite intersticial. Se você está à procura de informações sobre cistite e infecção urinária, leia:
O que é a cistite intersticial
A síndrome da bexiga dolorosa é uma doença ainda pouco conhecida, com causas não esclarecidas. Uma definição aceitável para a cistite crônica é: existência de incômodo (dor, ardência, peso, pressão, desconforto…) na região da bexiga com duração de pelo menos 6 semanas, associados a outros sintomas de infecção urinária, sem, porém, haver de fato sinais de infecção da bexiga.
Na verdade, o nome síndrome da bexiga dolorosa é melhor que cistite intersticial ou cistite crônica, já que o termo cistite indica inflamação da bexiga, fato que não existe na maioria dos pacientes com esta doença.
Em apenas 10% dos casos é possível encontrar alterações na bexiga que justifiquem a dores. Em geral, são pequenas placas ulcerosas que se tornam visíveis quando a bexiga está muito distendida. Nos 90% dos casos restantes, porém, nem mesmo a biópsia da bexiga é capaz de encontrar alterações relevantes nas células. Acredita-se que os pacientes com síndrome da bexiga dolorosa apresentem alterações no funcionamento dos nervos da bexiga, tornando-os mais sensíveis.
Há uma corrente que trata a síndrome da bexiga dolorosa como uma variante de outras síndromes dolorosas, como a síndrome do intestino irritável ou a fibromialgia. Na verdade, é comum o paciente ter duas ou até essas três doenças ao mesmo tempo.
A síndrome da bexiga dolorosa acomete mais mulheres do que homens. Cerca de 9 em cada 1000 mulheres tem sintomas de cistite crônica. Nos homens, essa taxa é de apenas 0,6 para cada 1000. Praticamente todos os paciente com cistite intersticial são de etnia caucasiana (brancos) e os sintomas costumam surgir após os 40 anos, apesar de também haver casos em crianças.
Sintomas da cistite crônica
O principal sintoma da síndrome da bexiga dolorosa é um desconforto da bexiga, geralmente associado ao fato dela estar cheia.
As características deste incômodo variam entre os indivíduos e ao longo do curso da doença. Alguns pacientes queixam-se de dor, enquanto outros descrevem a sensação como “uma pressão” ou “um desconforto”. Ainda há alguns pacientes relatam espasmos da bexiga. Os sintomas podem variar de um dia para o outro, e a intensidade da dor pode ser descrita como uma leve a pressão até uma intensa dor debilitante.
Em muitos pacientes, a cistite crônica é um quadro de dor crônica incapacitante, influenciando no rendimento no trabalho e nas relações pessoais. A dor, o aumento da frequência urinária e o cansaço podem provocar uma degradação da qualidade de vida. Há pacientes que precisam urinar de 30 em 30 minutos.
Entre os sintomas mais comumente relacionados à síndrome da bexiga dolorosa estão:
Urgência para urinar | 57-98% dos casos |
Vontade constante de urinar | 84-97% |
Dor | 66-94% |
Necessidade de acordar à noite para urinar | 44-90% |
Disúria (dor ao urinar) | 71-98% |
Dor na região suprapúbica | 39-71% |
Dor na região do períneo | 25-56% |
Espasmos da bexiga | 50-74% |
Sensação de pressão na região púbica | 60-71% |
Dor vaginal durante o ato sexual | 46-80% |
Depressão | 55-67% |
Hematúria (sangue na urina) | 14-33% |
A localização do desconforto da bexiga é geralmente descrita como sendo acima do púbis ou na região da uretra, embora dor abdominal inferior unilateral ou dor lombar associada à bexiga cheia também sejam observadas em alguns casos.
Quanto ao aparecimento dos sintomas, a maioria dos pacientes descrevem um início gradual, com agravamento do desconforto, urgência urinária e frequência ao longo de um período de meses. Um grupo menor de pacientes descrevem os sintomas como abruptos e graves desde o seu início. Alguns pacientes são até capazes de citar a data exata em que os sintomas começaram.
Exacerbações dos sintomas podem ocorrer após a ingestão de certos alimentos ou bebidas, durante o estresse, quando se fica muito tempo sentado, ou depois de certas atividades, como, por exemplo, exercício físico ou sexo. A dor da cistite crônica pode também se agravar durante a segunda metade do ciclo menstrual.
Na maioria dos pacientes não é possível identificar um evento que sirva de gatilho para o início dos sintomas. Porém, em alguns, a cistite crônica surge após um episódio de infecção urinária, um procedimento cirúrgico ou trauma na região do cóccix.
Uma característica importante da síndrome da bexiga dolorosa é o fato do exame de urina não apresentar sinais de infecção urinária. O exame de urina simples (EAS ou urina tipo I) são sempre normais e a urocultura é repetidamente estéril (negativa). Eventualmente, o paciente pode apresentar hematúria (sangue na urina) o que acaba por dificultar o diagnóstico devido a série de outras alterações urinárias que devem ser descartadas antes de se pensar em cistite crônica.
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A presença de uma urocultura positiva dentre várias negativas não invalida o diagnóstico de cistite intersticial, pois nada impede que a paciente com síndrome da bexiga dolorosa possa ter uma infecção urinária, como qualquer outra pessoa. O problema é que mesmo tratando e eliminado a bactéria, se paciente tiver mesmo cistite crônica, os sintomas irão persistir.
O exame físico do paciente com suspeita de cistite crônica geralmente inclui um exame ginecológico completo nas mulheres e um exame de toque retal nos homens. Muitas vezes, os pacientes apresentam sensibilidade no abdômen, quadris e nádegas. As mulheres têm sensibilidade na vagina e ao redor da bexiga, e os homens no escroto e pênis. Por esta razão, o exame médico pode ser desconfortável.
Tratamento da síndrome da bexiga dolorosa
Não existe um tratamento simples para eliminar os sinais e sintomas da cistite intersticial. Do mesmo modo, não há um tratamento que funcione para todos. O que pode funcionar para um paciente, pode não fazer efeito algum para outro. Por isso, o paciente com síndrome da bexiga dolorosa pode precisar experimentar vários tratamentos ou combinações de tratamentos antes de encontrar uma abordagem que alivie os seus sintomas.
Um dos objetivos do tratamento é ensinar o paciente a evitar fatores que possam agravar o quadro. Identificar alimentos, atividades e situações que desencadeiam os sintomas é importante para a melhora da qualidade de vida. O cigarro costuma piorar os sintomas, portanto, parar de fumar é importante.
A síndrome da bexiga dolorosa não é um distúrbio psicológico, mas os sintomas podem ser agravados por estresse, ansiedade, depressão ou outros fatores psicológicos. Além disso, a doença em alguns casos é tão severa que pode causar dificuldades nos relacionamentos, no trabalho, na escola e no dia-a-dia em geral. Apoio psicológico pode ser útil para lidar com estes problemas.
Entre as drogas que podem ser usadas para controle dos sintomas estão os analgésicos, anti-inflamatórios e antidepressivos (geralmente amitriptilina).
Há uma droga desenvolvida especificamente para o tratamento da cistite intersticial, chamada polissulfato sódico de pentosana, comercializada sob o nome Elmiron® ou Cistosan®. Este medicamento foi desenvolvido para reparar o revestimento da bexiga em pessoas com síndrome da bexiga dolorosa. Estudos têm mostrado que esta medicação é realmente eficaz em reduzir os sintomas de alguns pacientes, embora, raramente, faça com que os sintomas desaparecem completamente. O polissulfato sódico de pentosana precisa ser tomado por três a seis meses antes que qualquer benefício possa ser identificado.
Uma outra droga muito usada no tratamento da cistite crônica é o dimetilsulfóxido (DMSO), administrada diretamente na bexiga através de um cateter vesical. As administrações são habitualmente semanais por seis a oito semanas. O DMSO não é eficaz em todos os pacientes e, em alguns casos, pode causar agravamento temporário da dor. Esta droga, porém, tem sido usada durante muitos anos, sendo considerada como sendo muito segura e sem efeitos secundários de longa duração.
A estimulação elétrica transcutânea (TENS) usa pulsos elétricos suaves para aliviar a dor pélvica e, em alguns casos, reduzir a freqüência urinária. Fios elétricos são colocados na parte inferior das costas ou logo acima da região pubiana. Pulsos elétricos são administrados por minutos ou horas, duas ou mais vezes ao dia, dependendo da resposta do paciente.
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