terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

RAIVA HUMANA / TRANSMISSÃO E VACINA

Posted: 03 Feb 2013 08:50 PM PST
A raiva é uma zoonose (doença transmitida de animais para o homem) causada por um vírus. É uma das doenças mais graves que se tem conhecimento, com taxa de mortalidade de quase 100%. Nenhuma outra doença infecciosa tem taxa de mortalidade tão elevada. Apesar da existência da vacina e da imunoglobulina, que ajudam a prevenir a raiva humana, ainda morrem de raiva anualmente aproximadamente 70.000 pessoas em todo mundo.

Neste texto vamos abordoar os seguintes pontos sobre a raiva:
  • O que é a raiva humana.
  • Transmissão da raiva.
  • Sintomas da raiva.
  • Tratamento da raiva (vacina contra raiva).
  • Relação da raiva com morcegos.

O que é a raiva humana


A raiva é uma grave doença infecciosa causada pelo vírus do gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae, que leva ao óbito praticamente 100% dos pacientes contaminados. Desde o século XIX, porém, já existe vacina contra a raiva, sendo ela bastante efetiva em impedir o avanço da doença, caso administrada em tempo hábil.

A raiva é uma doença transmitida somente por animais mamíferos, geralmente através da mordida e inoculação do vírus presente na saliva dentro da pele. 

O vírus da raiva tem atração pelas células do sistema nervoso, invadindo imediatamente os nervos periféricos após ser inoculado através da pele. Quando nos nervos, o vírus passa a se mover lentamente, cerca de 12 milímetro por dia, em direção ao sistema nervoso central. Ao chegar no cérebro, o vírus causa a encefalite rábica, a temida complicação que leva os pacientes à morte.

Transmissão da raiva


Cão com raiva
Cão com raiva
A raiva é uma zoonose. O vírus é transmitido por mordidas e arranhaduras de mamíferos contaminados. Na maioria dos casos, a transmissão ocorre através de cães ou morcegos. Porém, vários outros mamíferos podem transmitir a doença, entre eles:

- Furão (ferrets).
- Raposas.
- Coiotes.
- Guaxinins.
- Gambás.
- Gatos.
- Macacos. 

Mamíferos não carnívoros, como porco, vaca, cabra, cavalo, etc., também estão associados a casos de raiva, mas estes são mais raros.

Roedores pequenos, como esquilos, ratos, coelhos, porquinho-da-índia e hamsters não são transmissores usuais de raiva, não havendo na literatura médica relatos de casos de raiva humana transmitidos por leles. Animais não mamíferos, como lagartos, peixes e pássaros NUNCA transmitem raiva.

Desde a implementação de programas de vacinação contra a raiva em cães e gatos, o número de casos de raiva humana despencou. Na Europa e nos EUA, por exemplo, o vírus da raiva circula atualmente mais em raposas e morcegos do que em cães, o que diminui o risco de exposição dos seres humanos. 

Segundo dados do Ministério da Saúde, no período de 1990 a 2009, foram registrados no Brasil 574 casos de raiva humana, nos quais, até 2003, a principal espécie transmissora foi o cão. A partir de 2004, porém, o morcego passou a ser a principal fonte de transmissão de raiva no Brasil.

Virtualmente todos os casos de raiva humana são transmitidos através de mordidas ou arranhões de animais infectados. Como o vírus encontra-se presente na saliva dos animais contaminados, outra via de transmissão possível, mas bem menos comum, é através de lambidas em mucosas, como a boca, ou feridas abertas. Aquele antigo hábito de oferecer feridas para cães lamberem, além de facilitar a infecção bacteriana da lesão, pode também ser uma fonte de contaminação de raiva.

Não existe transmissão entre seres humanos, não havendo nenhum risco para familiares ou para a equipe médica que cuida dos pacientes*. A transmissão também não ocorre por objetos ou alimentos, uma vez que o vírus não sobrevive no meio ambiente, morrendo rapidamente quando exposto à luz solar ou quando a saliva contaminada seca. Não há casos, por exemplo, de transmissão da raiva através de frutas manipuladas por morcegos contaminados.

* Na verdade, há raros relatos na literatura médica de transmissão de raiva entre humanos, mas estes são casos isolados e mal documentados. A única forma de transmissão da raiva entre humanos devidamente documentada é através do transplante de órgãos, com doador infectado.

O contato com a pele íntegra não oferece risco, mesmo que o animal a lamba. Do mesmo modo, tocar em animais contaminados, como fazer carinho em cães ou apenas encostar a mão em um morcego, também não oferece risco de contaminação. O vírus só está presente para transmissão na saliva, não havendo risco de contaminação quando há contato com sangue, fezes ou urina de animais infectados.

Sintomas da raiva humana


O vírus da raiva tem atração pelo sistema nervoso central, alojando-se frequentemente no cérebro, após longa viagem pelos nervos periféricos.

A encefalite, inflamação do encéfalo, é o resultado final da instalação e multiplicação do vírus no sistema nervoso central. Os sintomas da raiva são todos decorrentes deste acometimento do cérebro. São eles:

- Confusão mental.
- Desorientação.
- Agressividade.
- Alucinações.
- Dificuldade de deglutir.
- Paralisia motora.
- Espasmos musculares.
- Salivação excessiva.

Uma vez iniciados os sintomas neurológicos, o paciente evolui para o óbito em 99,99% dos casos. 

A evolução da raiva pode ser dividida em 4 partes:

1) Incubação - O vírus se propaga pelos nervos periféricos lentamente. Desde a mordida até o aparecimento dos sintomas neurológicos costuma haver um intervalo de 1 a 3 meses. Mordidas na face ou nas mãos são mais perigosas e apresentam um tempo de incubação mais curto.

2) Pródromos - São os sintomas não específicos que ocorrem antes da encefalite. Em geral, é constituído por dor de cabeça, mal-estar, febre baixa, dor de garganta e vômitos. Podem haver também dormência, dor e comichão no local da mordida ou arranhadura.

3) Encefalite - É o quadro de inflamação do sistema nervoso central já descrito anteriormente.

4) Coma e óbito - Ocorrem em média 2 semanas após o início dos sintomas.

Tratamento da raiva


Se por um lado praticamente 100% dos pacientes morrem após o início dos sintomas, por outro, há vacina e tratamento profilático com imunoglobulinas (anticorpos).

Em caso de mordida por qualquer mamífero, devemos lavar bem a ferida com água e sabão para evitar a contaminação pelas bactérias presentes na saliva dos animais (leia: TRATAMENTO DE FERIDAS E MACHUCADOS). Depois desta primeira limpeza, o paciente deve procurar um centro médico para que a equipe de saúde possa avaliar se há necessidade de iniciar tratamento profilático (preventivo) com a vacinação contra raiva. É importante também vacinar o paciente contra o tétano, caso a última vacinação tenha mais de 10 anos (leia: TÉTANO | VACINA E SINTOMAS).

Se o animal for doméstico é importante obter a caderneta de vacinação do mesmo, atestando sua imunização contra a raiva. Animais devidamente vacinados não são fontes de transmissão da raiva. Nestes casos, não há necessidade de iniciar qualquer tratamento a não ser que o animal passe a apresentar sintomas da raiva poucos dias depois da mordida.

Em cães, gatos e furões, o tempo máximo de evolução da doença, desde o aparecimento do vírus na saliva até a morte, é de apenas 10 dias. Quando alguém é mordido ou arranhado por um destes animais, indica-se a observação do mesmo por até 10 dias. Se o animal não adoecer neste intervalo é porque ele não estava contaminante no dia da mordida, não havendo, portanto, risco algum de raiva para o paciente.

Se o animal for um cão de rua, sem dono, ou selvagem, como um morcego ou raposa, é importante capturá-lo para que ele possa ser analisado por um veterinário, de modo a procurar sinais do vírus da raiva. Se a captura do animal não for viável, o tratamento profilático deve ser indicado, partindo do princípio que este esteja contaminado com o vírus da raiva. Portanto, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, já que a profilaxia contra a raiva é considerada uma urgência médica.

Mordidas na cabeça ou no pescoço são bem mais graves por estarem próximas do cérebro. Mãos e pés também são perigosos pois são áreas com muita inervação, facilitando a chegada do vírus aos nervos periféricos. Nestes casos, o tempo de viagem do vírus até o encéfalo é bem mais curto do que o habitual, podendo o período de incubação ser de poucos dias. Estes pacientes devem receber tratamento profilático urgente independente da situação do animal.

O mais importante é entender a gravidade da raiva. Não se deve nunca negligenciar uma mordida ou arranhadura por animais. Não se baseie apenas na aparência do animal para definir se este tem o não raiva. Uma vez mordido, procure um posto de saúde para receber as orientações. 

O tratamento contra a raiva é divido em profilaxia pré-exposição e profilaxia pós-exposição. Vamos falar um pouquinho sobre elas.

Profilaxia pré-exposição


A profilaxia pré-exposição é o tratamento preventivo para os indivíduos que ainda não foram expostos ao vírus. Ela é feita com a vacina contra raiva e só está indicada para indivíduos com alto risco de contaminação, como:

- Médicos veterinários.
- Biólogos.
- Agrotécnicos.
- Pessoas que trabalham em laboratórios de virologia.
- Pessoas que trabalham com animais silvestres.
- Pessoas envolvidas na captura e estudo de animais suspeitos de raiva.
- Pessoas que vão viajar para áreas onde ainda não há controle da raiva nos animais.

A vacina contra raiva é administrada em três doses, nos dias 0, 7 e 28. Duas semanas após o fim da vacinação deve-se colher sangue para avaliar se houve resposta imunológica, com produção adequada de anticorpos.

Profilaxia pós-exposição


A profilaxia pós-exposição é aquela que é feita somente após o indivíduo ter sofrido uma mordida de um mamífero.

Existem vários esquemas de tratamento profilático, envolvendo vacinas e imunoglobulinas. Dependendo da gravidade da lesão, o esquema pode incluir até 10 dias seguidos de vacinações diárias mais a administração de imunoglobulina. Todo paciente agredido por animais deve procurar um posto de saúde o mais rápido possível para receber orientações sobre o tratamento.

Segundo o Ministério da Saúde, a profilaxia pós-exposição pode ser resumida neste quadro:

Vacinação contra raiva
Para saber mais detalhes técnicos sobre a vacinação contra raiva, acesse as normas técnicas de profilaxia da raiva humana do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/normas_tecnicas_profilaxia_raiva.pdf

Morcegos e raiva - Um caso a parte


Morcegos são animais comumente infectados pela raiva. Nos EUA nos últimos 15 anos, mais de 90% dos casos de raiva foram causados por mordidas de morcego.

O grande problema é que a mordida pode passar despercebida, principalmente enquanto a vítima dorme. Por isso, é indicada profilaxia pós-exposição para todos aqueles que acordam e encontram um morcego em seu quarto, mesmo não havendo sinais de mordida ou arranhadura. Como a raiva é muito letal, na dúvida, deve-se sempre assumir que a mordida aconteceu.

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