O que é Artrite Reumatóide
Embora a artrite reumatóide não tenha cura e seja crónica, é importante não dramatizar. É bem possível que, bem tratada, a artrite reumatóide propicie aos doentes, na grande maioria mulheres, uma vida válida e feliz.
A artrite reumatóide (A.R.)
faz parte do grupo das doenças reumáticas que englobam ainda as
degenerativas, metabólicas, regionais e musculares e que atingem o
aparelho locomotor, designadamente os ossos, as articulações, os
músculos e os tendões.
No caso da
artrite reumatóide, a doença reumática mais relevante é a membrana
sinovial que é atingida, segregando anormalmente um líquido, que se
acumula dentro da articulação, ficando inchada e dolorosa. Com o passar
do tempo, e se não houver terapêutica adequada, pode conduzir a
deformações mais ou menos graves. Mas o primordial é não baixar a cabeça
e não deixar de ter esperança.
Em
Portugal estima-se que haja cem mil casos e que sejam as mulheres as
mais afectadas. Embora se pense com grande dose de certeza que pode
atingir todas as idades, é mais frequente que se verifique entre os 30 e
os 40 anos. É por isso que já se vai assistindo a alguns cuidados no
que toca às crianças porque, apesar de ser caso raro, pode atingi-las.
Daí
a existência da ANDAI (Associação Nacional de Doentes com Artrite
Infantil), sensibilizada para os problemas concernentes às camadas mais
jovens.
É difícil conceber a ideia de
que seja impossível prevenir o aparecimento desta doença inflamatória
crónica, mas o que é facto é que as causas são desconhecidas, não se
sabe qual é o agente agressor nem se este é interno ou externo.
Contudo, pode adiantar-se que a artrite reumatóide
não é uma doença infecciosa, contagiosa, cancerosa ou hereditária e que
não é provocada por alterações climatéricas, nem por deficiências
alimentares em vitaminas, açúcares, ácidos ou gorduras, pelo que é desajustado acreditar em dietas
especiais. Também se afastam os factores psicológicos como os
originadores da doença mas é claro que o seu surgimento pode coincidir
com um traumatismo dessa índole.
Reside,
pois, um grande mistério acerca da sua causa e são numerosos os estudos
de investigação já em curso. Um melhor conhecimento dos processos da
inflamação sinovial, que não surgem exclusivamente na articulação
(podendo afectar outros órgãos como o coração, os rins, os pulmões, a pele
ou mesmo o sistema nervoso), permitem, pelo menos, avançar com
tratamentos eficazes, nomeadamente, o acompanhamento medicamentoso ao
nível da cortisona, a terapêutica de fundo e a cirurgia.
”Vamos ANDAR juntos”
ANDAR
pode ser muito mais do que uma acção a que todos estamos habituados e
que, por talvez nos ser tão próxima, até nos leva a esquecer que é
básica e crucial para uma vida sã e independente.
“Vamos
ANDAR juntos” leva a pensar que se trata de um mero lema de uma
qualquer associação por aí perdida, mas, na verdade, existe para evitar o
isolamento e a solidão na doença. Associação Nacional de Doentes com
Artrite Reumatóide é o seu único significado e o objectivo principal
passa antes de mais por um maior acompanhamento das vítimas desta
doença, as quais, desde há cerca de cinco anos, passaram a ver os seus
interesses melhor protegidos.
Destina-se,
como se adivinha facilmente, a todos os doentes mas também aos seus
familiares e demais, que se identifiquem, de algum modo, com os
objectivos da instituição. É claro que a principal preocupação que
esteve na base da criação da ANDAR foi precisamente facultar um apoio
médico mais imediato e eficaz a todo o paciente mas, quem passa a
conhecer a Associação, fica com uma ideia mais ampla dos seus fins.
Encontros
entre doentes; realização de programas e acções de informação;
colaboração com outros serviços nacionais e estrangeiros para
intercâmbio de conhecimento; e promoção de edições sobre o tema da
artrite servem para se falar um pouco de tudo o que atormenta este grupo
de pessoas, mas também do que as faz esquecer todos os problemas que
enfrentam no dia-a-dia.
Mas há mais.
Recentemente, aquando do Congresso Anual da EULAR (European League
Against Rheumatism) lançou-se um manifesto europeu que tem por base
alguns princípios, a saber:
- Consciencializar o público para o impacto das doenças reumáticas;
-
dar apoio aos doentes através do financiamento de programas que ajudem a
definir as suas capacidades e a realçar a sua qualidade de vida;
- reconhecer e desenvolver associações nacionais e internacionais;
-
publicar legislação e regulamentação que assegure igualdade de
oportunidades, acesso aos transportes públicos e o fim das barreiras
arquitectónicas;
- promover programas
de educação e de treino acessíveis para que a aprendizagem ao longo da
vida permita poderem desenvolver uma actividade profissional (e
mobilidade a este nível) como cidadãos plenos.
Testemunhos (A) casos da vida
Fernanda
Ruaz e Maria Lina da Silva são duas doentes com angústias semelhantes e
esperanças iguais. Querem, sobretudo, ensinar a todos os incrédulos que
é possível viver-se muito feliz e ser-se útil. São membros da ANDAR e
autoras de dois livros, cuja mensagem está longe de pretender servir de
modelo, sendo unicamente o testemunho das suas experiências, dos seus
medos, tristezas e da constante aposta num futuro muito válido e
risonho.
Fernanda Ruaz é licenciada
em Filosofia e, por isso, menos crente que a Irmã Lina da Silva, a qual,
formada em Filologia Românica, seguiu um caminho diferente e é
franciscana Missionária de Maria.Há 42 anos que Fernanda Ruaz, autora de
Andar para além da dor, sofre de Artrite reumatóide (A.R.) e tudo
começou aos 10 anos: “Comecei por ter muitas dores no pulso e surtos de febre e foi-me diagnosticada febre reumática.”
Só passado uns meses, no Instituto de Reumatologia é que a verdade veio
à tona e, a partir daí, aos 11 anos, passou a ir às consultas sozinha:
“Sou
de uma família pobre e, por isso, não podiam faltar constantemente ao
emprego para me irem levar às consultas. Desde cedo que lido sozinha com
a doença e não tenho razões de queixa acerca da forma como fui tratada
porque o apoio social, ao contrário do que se passa actualmente,
funcionava muito bem e os medicamentos, o calçado e as idas às termas
eram completamente gratuitas.
Tive
sempre um carinho incondicional”, lembra, referindo ainda a altura em
que começou a trabalhar como desenhadora: “Escolhi esta profissão
precisamente por lidar com objectos leves, porque o que eu queria era
ter sido professora primária, opção que me foi logo desaconselhada.”
E
a vida de Fernanda Ruaz prosseguiu como a de outra pessoa comum.
Confessa ter sido muito namoradeira, tendo casado aos 19 anos.
Entretanto, o cotovelo começou a ficar preso e nem mesmo a tal profissão
“levezinha”, como a apelidou, pôde ir avante. Tirou o curso enquanto
trabalhava e fê-lo com muito esforço, mas, pelo que recorda dos seus
tempos de infância, estudar sempre foi uma tarefa de que gostou imenso:
“Quando
era criança acordava muito cedo, por volta das 6.00 h e tomava o meu
corticóide para fazer efeito até à altura de me levantar para ir para a
escola. Assim, não tinha que faltar…” Depois de ter sido mãe, aos 25
anos, e embora toda a gravidez
tenha sido saudável, Fernanda Ruaz tem-se sentido fortemente marcada
mas, “através da imaginação e empenho intelectual”, tem vindo a superar a
componente física. Confessa nunca se ter sentido deficiente e julga ser
por isso que sempre lutou. Mas não o fez sozinha.
As
estruturas de apoio existentes, principalmente no seio da família, são
imprescindíveis para alcançar o sucesso e o afecto é basilar. “A
esperança, essa, nunca pode faltar porque não se desespera por mais
negra que seja a realidade. Não se pode pensar que a vida acabou e tem
que se dar para se receber”, conclui.
As
vidas dos doentes com Artrite Reumatóide têm muitos pontos convergentes
e, embora estejamos em contacto com dois casos de louvar, chamamos
também a atenção para os casos mais tristes, em que o familiar doente é
quase segregado do seu lar e em que a vergonha de se estar acompanhado
por uma pessoa com deformações não é mera ficção. São situações que
coexistem com as de Fernanda Ruaz e da Irmã Lina, mas que se querem
extinguir porque a verificarem-se retardam qualquer melhora no paciente:
“Quando
dava aulas, os meus alunos ajudavam-me imenso e quando me viam ao fundo
do corredor paravam logo com as brincadeiras para eu passar ilesa. Até
faziam cadeirinha para me levar para a sala de aula”, contou a Irmã
Lina, apelando para os estímulos de terceiros. O seu livro, Artrite
Reumatóide – Uma Experiência de Vida, reflecte muito bem a opção da irmã
em dedicar-se ao mundo e fazer dele a sua família.
Só pelos
seus vinte anos é que se pôs a hipótese de existir A.R. porque antes,
dados os sintomas, só se pensava em problemas circulatórios. As terapias
não surtiram os efeitos desejados e o internamento acabou por estar
presente na vida de Lina da Silva, que recorda: “Fiz uma artoplastia
total ao joelho, tive que recorrer à reforma antecipada, o que foi muito
desanimador e duro, mas felizmente tudo passou”.
A
irmã Lina reencontrou-se depois de ter sido submetida a outra cirurgia e
hoje apela ao sentido de utilidade e afirma em jeito de conselho: “Não
te fixes no passado!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário